Confiram tudo o que rolou no festival!!
sábado, 29 de novembro de 2014
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
O 3º Montenegro em Cena chega ao fim
Finalizar esta edição do Montenegro em
Cena me traz uma das melhores sensações do ano. Saber que contribuímos para
gerar encontros únicos em um ambiente generoso reafirma a sensação de que
enquanto artistas, precisamos trabalhar juntos em prol de nossa arte.
Nesse festival construímos
conhecimentos que irão qualificar o fazer teatral de cada grupo, e fizemos isso
de forma sensível, generosa e construtiva.
Outro fator que merece destaque é a
presença massiva do público. O festival levou 2,5 mil pessoas ao teatro em
apenas 4 dias. Sabemos da realidade do teatro, em que as pessoas não saem de
casa e os teatros estão constantemente vazios. Quase 4% da população de
Montenegro assistiu teatro no Montenegro em Cena. Ainda é uma parcela pequena,
mas significativa, pois estamos formando um público apreciador de artes.
Assim seguimos para a 4ª edição do
festival: com a certeza de que estamos retomando a essência coletiva dos
festivais, desenvolvendo a cadeia produtiva da região e ampliando a potencia
dos novos encontros teatrais que os grupos irão gerar.
Obrigado a todos, até a próxima!
Cássio Azeredo - Coordenador
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Agradecimentos
Gostaríamos de agradecer a algumas empresas, instituições
e pessoas que foram fundamentais na realização deste festival, iniciando por estas empresas sensíveis e com
responsabilidade cultural pelo apoio ao Projeto Montenegro em Cena.
Além destes, agradecemos a estas Instituições parceiras:
•
FUNDARTE – Fundação Municipal de Artes de Montenegro,
•
AASEPHAC de Montenegro,
• A
UERGS e a toda e equipe da peça Mac Bodas - Tequila Guacamole y Algo Más.
A todas as escolas
que participaram do projeto, responsáveis por um público de 2,5 mil pessoas.
Aos grupos
participantes do festival.
Ao João Iris
pelas obras de arte.
Ao Valtemir
Pereira, que cuidou do teatro e de nós, super comprometido com a proposta
do festival.
Ao Diego Ferreira,
pela construção textual sempre atenta e comprometida.
Aos jurados, Tefa
Polidoro, Melissa Dornelles e Maico Silveira, pelas palavras sensíveis
e carinhosas.
FUNDESC
– FUNDO MUNICIPAL DE CULTURA DE MONTENEGRO
que é o responsável pelo financiamento do projeto.
A todos estes, nosso carinho e gratidão.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Resultado da premiação do Montenegro em Cena
Segue a premiação do 3º
Montenegro em Cena (indicados e vencedores)
Melhor Texto Inédito
• Totonho Lisboa – O Médico Que Receitava Livros
• Marcos Cardoso - A Moça Bonita da Linha do Trem
• Maurício Fulber - Cinco Pontas de Uma Estrela Torta
VENCEDOR: Totonho Lisboa – O Médico Que Receitava Livros
Melhor Maquiagem
• Gina Samanta – Os Descasados
• O grupo – Valsa nº 6
• Tuti Kerber – O Auto da Compadecida
VENCEDOR: O Auto da Compadecida
Melhor Figurino
• Shana Domingues – Valsa nº 6
• Fabrízio Rodrigues - O Auto da Compadecida
• Marcos Cardoso – A Moça Bonita da Linha do Trem
VENCEDOR: Fabrízio Rodrigues - O Auto da Compadecida
Melhor Cenografia
• Julio Cesar Schuster – O Auto da Compadecida
• O Grupo Valsa nº 6
• Marcos Cardoso – A Moça Bonita da Linha do Trem
VENCEDOR: Marcos Cardoso – A Moça Bonita da Linha do Trem
Melhor Trilha Sonora
• O grupo – O Auto da Compadecida
• O grupo – Valsa nº 6
VENCEDOR: O grupo – O Auto da Compadecida
Melhor Iluminação
• Fernando Tepasse - Valsa nº 6
• Dionatan Rosa – A Moça Bonita da Linha do Trem
• Marcos Cardoso – O Auto da Compadecida
VENCEDOR: Fernando Tepasse - Valsa nº 6
Melhor Atriz Coadjuvante
• Ana Ledur - O Auto da Compadecida
• Carol Oliveira – O Médico Que Receitava Livros
• Luisa Prigol – A Moça Bonita da Linha do Trem
VENCEDOR: Carol Oliveira – O Médico Que Receitava Livros
Melhor Ator Coadjuvante
• Alan Krug – O médico que receitava livros
• Edi Terra – Ah La Pucha! Uma Comédia Gaúcha
• Samuel Vier – O Auto da Compadecida
VENCEDOR: Alan Krug – O médico que receitava livros
Melhor Ator
• Everton Santos – Os Descasados
• Leo Cardoso – Ah La Pucha! uma Comédia Gaúcha
• Samuel dos Santos – O Médico Que Receitava Livros
VENCEDOR: Leo Cardoso – Ah La Pucha! uma Comédia Gaúcha
Melhor Atriz
• Bruna Johann - Cinco Pontas de Uma Estrela Torta
• Marta Brito – Cinco Pontas de Uma Estrela Torta
• Nicole Orth – O Auto da Compadecida
VENCEDOR: Nicole Orth – O Auto da Compadecida
Melhor Direção
• Bianca Flôres – Valsa nº 6
• Julio César Schuster – O Auto da Compadecida
• Maurício Fulber – Cinco Pontas de Uma Estrela Torta
• Marcos Cardoso – A Moça Bonita da Linha do Trem
VENCEDOR: Julio César Schuster – O Auto da Compadecida
Melhor espetáculo Juri Popular
3º LUGAR - Os Descasados
2º LUGAR - Ah La Pucha! Uma Comédia Gaúcha
VENCEDOR: 1º LUGAR - A Moça Bonita da Linha do Trem
Premio Especial do Juri
Pelos elencos jovens, entregues e comprometidos com a proposta e com o fazer teatral.
VENCEDORES: Valsa nº 6 e a A Moça Bonita da Linha do Trem
3º Melhor Espetáculo
• O Médico Que Receitava Livros
2º Melhor Espetáculo
• Valsa nº 6
1º Melhor Espetáculo
• O Auto da Compadecida
A lá puchá! Tradicionalismo em cena
"A lá pucha" Uma comédia gaúcha" já
explicita no título a que veio: fazer rir construindo todo o seu enredo a
partir da expressão "A lá puchá!" e tem o simples intuito de fazer
comédia. Baseado nesta premissa o espetáculo cumpre muito bem o papel a que se
destina. A dramaturgia de Rafael Barcellos se sustenta através de uma disputa
entre Mariana e seus dois pretendentes que precisam passar pela aprovação de
seu pai Juca das Flores para conquistar o coração da jovem. O espetáculo é
essencialmente uma comédia de costumes, onde faz uma análise comportamental dos
personagens focado nas relações humanas e no contexto social. Temos aqui
tipicas figuras do imaginário gaudério: o pai extremamente conservador que
cuida da filha que é frágil e sem voz ou autonomia, os dois pretendentes
gaúchos que se utilizam de todas suas qualidades (ou não) para conquistar o
coração da menina e até mesmo a presença de uma comadre fofoqueira, figuras
pertencentes ao folclore dos pampas.
O elenco do espetáculo é desequilibrado, sendo que
a força está centrada nas figuras masculinas, tanto nas atuações quanto na
dramaturgia, pois a mulher no espetáculo está relegada a segundo plano, sendo
que as interpretações de Analu Bastos e de Vianês Amaral está muito aquém do
elenco masculino. E aqui cabe uma questão: porque tanto na dramaturgia e no
trabalho de atuação está força é desequilibrada? Pois a narrativa já reforça uma série de
questões que não engrandecem a figura feminina e ainda por cima estas figuras
são apagadas? Penso que poderia se subverter isso, repensando o papel das
mulheres dentro do espetáculo, e fortalecendo esta relação.
Quanto ao elenco masculino, penso que conseguem
criar um jogo muito interessante, ágil e que consegue comunicar muito bem.
Destaque para a figura construída pelo ator Édi Terra na figura de Juca das
Flores, uma figura forte e imponente.
A direção de Rafael Barcellos é eficiente, e
consegue articular todos os elementos da encenação, devendo atentar apenas para
o uso excessivo da trilha sonora em alguns momentos e de repensar a função do
cenário, cuidando para não ser apenas ilustrativo.
Com tudo isso "A lá puchá!" é um
espetáculo com um apelo popular muito forte, que consegue agradar em cheio a
todos espectadores, pela identificação imediata que tem ao trazer a cena
questões do tradicionalismo gaúcho, e acima de tudo com boas soluções cênicas.
Vida longa ao espetáculo!
Comentário Crítico feito
por Diego Ferreira sobre a peça Ah la Pucha! Uma Comédia Gaúcha, do grupo Cia. Palco Iluminado de Gravataí.
Equívoco em produção voltada aos pequenos
"O chapeleiro maluco" é uma produção do
Grupo Teatral Leva Eu direcionada as crianças e é exatamente por aí que eu
começo minha analise. Fazer teatro é uma responsabilidade muito grande, e
quando direcionamos o fazer teatral ao público infantil esta responsabilidade
tem de ser redobrada. O que eu percebo nesta montagem de "O chapeleiro
maluco" é uma sucessão de equívocos, que podem e devam ser trabalhados
para que esta experiencia possa ser potencializada.
Quando o espetáculo inicia percebemos um palco com poucos
elementos, uma limpeza na cena que poderia servir para a criação de imagens em
ação, mas a medida que o espetáculo avança vem a tona uma série de esteriótipos
do teatro infantil como o uso exagerado de intenções didáticas, que tem que se
ter um pouco de cuidado, pois a criança é um ser dotado de inteligencia e que
por isso não precisa ser tratada como não fosse inteligente. A criança tem a
capacidade de interpretar o que vê, portanto não é saudável mastigar tudo e
entregar ao público. A dramaturgia peca no sentido de explorar um moralismo,
onde Aninha é boa/Juca é ruim e o professor é o espelho que tem que ser
seguido. O texto poderia usar as contradições destes personagens, explorar
melhor o universo dos sonhos que é o universo do Chapeleiro, explorar sensações
diferenciadas que evidenciem este universo paralelo.
Os figurinos tem uma preocupação em se comunicar
com o espectador quando utiliza a mesma estampa para o figurino dos irmãos, até
mesmo no inusitado figurino do Chapeleiro, mas penso que os demais elementos
estéticos como a trilha sonora que em nenhum momento ajuda a encenação, a criar
climas e tensões, pois são músicas conhecidas, mas que são deslocadas do
contexto da narrativa e acabam se tornando clichês. As coreografias são muito
bonitas, mas também não auxiliam, pois são apenas coreografias, sem sentido na
encenação, assim como a iluminação que poderia ter papel fundamental aqui, mas
é pouco explorada, poderia criar climas e suspensões na proposta.
Tudo precisa ser repensado, até mesmo a relação com
a platéia, pois nem sempre nas produções infantis é necessário esta relação, e
aqui a relação é forçada.
Sugiro então repensar o trabalho no sentido de
aprofundar as personagens no sentido dramatúrgico e no sentido das atuações, no
sentido das convenções e fugir dos esteriótipos e do politicamente correto,
sujar mais as figuras, construindo uma dualidade inerte ao ser humano.
Como já conheço outros trabalhos do diretor Igor e
sei desta humildade e gana em trabalhar com teatro, sei que ele vai filtrar
todas as questões e vai triunfar em seus novos projetos.
Comentário Crítico feito
por Diego Ferreira sobre a peça o
Chapeleiro Maluco, do grupo Teatral Leva Eu de Viamão.
Arrebatador!
O espetáculo “O auto da compadecida” foi até aqui a
grande surpresa do Montenegro em Cena, pois conseguiu me arrepiar desde a
primeira imagem que vi do trabalho. Temos aqui um trabalho que acerta em tudo.
Um trabalho com uma concepção apurada e com idéias muito claras e concisas.
A encenação parte do texto de Ariano Suassuna, mas
tem forte referencia na adaptação televisiva que mesclou a dramaturgia o cerne
de dois de deus textos: “O auto da Compadecida” e “O santo e a porca”. Poderia
ser um demérito esta referencia ao filme ou minissérie, porém o grupo se
apropria muito bem de tudo isso e vai além, pois agrega a cena uma forte
musicalidade. A trilha sonora é toda executada ao vivo pelos atores e isso é
realmente fantástico, pois este elemento é um fator muito forte na encenação e
que por isso se potencializa. Neste aspecto o grupo recria algumas canções do
cancioneiro popular e contextualiza no enredo da peça, e isso faz com que a
trilha se torne um forte elemento que não está apenas para criar climas e
tensões, mas está ali para comunicar, para narrar e a musicalidade cumpre um
papel fundamental. É lindo de se ver e ouvir um elenco afinado, cantando e se
divertindo com tudo isso.
Outro elemento estético que é muito favorável na
peça são os figurinos assinados por Fabrizio Rodrigues, pois todas as peças
comunicam por si só, dialogam com o todo e foram muito bem explorados em suas
estampas, cores, cortes e tipo de tecido. Um visual que impressiona desde o
primeiro momento. A iluminação também cumpre um papel fundamental pois além de
iluminar os atores, cria jogos e espaços de criação que auxiliam na encenação.
Os outros elementos estéticos foram muito bem
pensados em seu minimalismo, como a maquiagem que não é exagerada, é no tom
certo, exato que auxilia os atores a comporem suas figuras, assim como o
cenário e os adereços, que são móveis, transformam-se e estão ali a serviço da
cena.
Saliento que o espetáculo foi aplaudido em cena
aberta duas vezes, e isso deve-se ao equilíbrio alcançado pelo elenco e
direção. O elenco é coeso, todos tem espaços para criação, com exceção de Ivan
Lauermann, que faz o padeiro, e Leandro Lotermann que faz o cangaceiro, pois
estes dois atores poderiam, com o auxilio de seu diretor de aprofundar um pouco
mais seus personagens, a modo que possam crescer e aparecer mais em cena, não
chegam a destoar do todo, porém podem conseguir resultados mais próximos aos
demais atores.
Quanto ao restante do elenco, conseguem imprimir
aos seus personagens uma verdade e entrega, e tenho que destacar a Fabíola e
Nicole Orth que fazem João Grilo e Chicó, pois conseguem imprimir uma verdade a
estes personagens que já tem um registro televisivo muito forte no nosso
imaginário e que por isso conseguem subverter esta lógica alcançando resultados
ótimos. Ana Ledur, em minha opinião, é a que melhor se aproveita da sua
personagem, conseguindo imprimir a sua personagem “a mulher do padeiro” um tom
na medida exata, me ganha com sua malemolência e força, mas não apenas por
isso, mas também pela personificação da figura do demônio, que com todos os
adereços e figurinos Ana consegue criar uma figura grande, enorme que extravasa
na cena, por isso merece meu destaque.
Júlio Schuster é para mim uma revelação enquanto
diretor, já conhecia seu trabalho de ator, mas na direção eu realmente me
impressionei muito. O grupo dá a entender que se trabalha no coletivo, que não
fazem nada sozinho, mas quem assina e quem trás propostas é o Júlio e por isso
merece o meu respeito por nos apresentar um produto estético tão apurado, tão
bem amarrado em todos os aspectos. Júlio foi feliz em todas as suas escolhas e
isso é realmente maravilhoso quando acontece. Ou seja, temos aqui um grupo de
jovens atores com uma maturidade incrível que às vezes não encontramos em coletivos
profissionais.
Comentário Crítico feito
por Diego Ferreira sobre a peça O Auto da
Compadecida, do grupo Foi o que Eu Disse de Harmonia.
sábado, 27 de setembro de 2014
O penúltimo dia do Montengro em Cena
No último dia competitivo do 3º Montenegro em Cena tivemos a
presença de 800 pessoas no público e três belos espetáculos. Pela manhã assistimos às
estórias dos dois malandros João Grilo e Chicó no Auto da Compadecida. A tarde conhecemos o Chapeleiro Maluco e a noite vimos a disputa pelo amor de Mariana em
Ah la Pucha! Uma Comédia Gaúcha.
Os Descasados
“Os descasados” é uma comédia que trás a história de
Mariana e Sezefredo, um casal que vive aos trancos e barrancos na vida
conjugal. O espetáculo é nos apresentado como uma farsa e é perceptível alguns
elementos muito forte deste gênero em cena como gestualidade grandiloqüente,
enchimentos, maquiagem exagerada e uma corporalidade exacerbada.
As figuras construídas por Everton e Gina chamam a
atenção desde o primeiro momento que aparecem no lado de fora do teatro e
começam ali a sua interação com a platéia, mas no palco penso que os dois
atores poderiam apurar melhor o jogo e relação entre estas duas figuras,
demasiadas vezes percebo que o jogo funciona muito mais com quem está
assistindo (principalmente os que estão dispostos sobre o palco), do que
interagindo entre eles. Penso que os atores poderiam exercitar uma escuta entre
os dois, para que a cumplicidade entre eles possa se fortalecer e fazer o jogo
efetivamente acontecer. Em alguns momentos isso acontece, é quando é gostoso de
estar assistindo aquelas figuras, porém em outros momentos o jogo enfraquece e
cria-se uma ampla abertura para o improviso, que se for utilizado de forma
inteligente tudo bem, porém o resultado pode se dar de modo desastroso.
Na apresentação que o Grupo realizou no Festival o que
percebi foi que por esta falta de escuta e interação entre a dupla, acaba
ocorrendo uma sucessão de erros em cena, e estes erros são percebidos pela
platéia. Muitos destes foram super bem resolvidos através do olhar apurado do
Everton que se safou e muito bem de alguns destes imprevistos, porém outros não
tiveram como serem corrigidos. Mas se o espetáculo tiver esta abertura para o
improviso é aceitável, o que percebo é que “Os descasados” não é um espetáculo
fechado, porém nem tão aberto para apenas ficar consertando cenas e
improvisando. Por isso é extremamente importante exercitar sempre o estado de
jogo e a escuta entre os atores, que pelo fato de estarem a muitos anos
apresentando a mesma peça pode se desgastar.
Os elementos constitutivos da cena estão a serviço do
trabalho, através de um cenário simples, uma luz básica sem grandes movimentos
e uma trilha que auxilia a contar a narrativa. Os figurinos jogam com cores
opostas o que contribui para a relação dos atores.
Quanto as atuações percebo o trabalho que Gina e Everton
conseguem sustentar e se aproveitar muito bem, sendo que na maioria das vezes
Everton consegue se sair melhor, justamente por ir ajustando tempo/ritmo
durante o espetáculo, consegue ir da sutileza para o grandiloqüente, ao
contrário de Gina que já imprime a sua personagem uma energia muito grande
desde o inicio, chegando até mesmo a faltar o ar em algumas vezes. Gina poderia
aproveitar mais sutilezas, jogar com o grande e o pequeno e crescer com isso.
Contudo isso, “Os descasados” é um espetáculo que se
centra na figura dos atores e quando estes estão fragilizados o espetáculo não
se mantém, mas mesmo assim, não deixa de ser prazeroso assisti-los.
Comentário Crítico feito por Diego Ferreira sobre a peça Os Descasados, do grupo Renascença Cia de Teatro de Montenegro.
Ousadia Necessária
“Assistir ao espetáculo “Valsa nº 6” no Montenegro em
Cena desperta em mim um misto de alegria e satisfação. Primeiro destaco a
qualidade que o Grupo Art in fato consegue alcançar com a sua produção. Segundo
que vejo aqui neste coletivo a possibilidade da criação e pesquisa tão forte e
ousada, onde jovens atores unidos a uma também jovem diretora conseguem
alcançar resultados estéticos bastante apurados e equilibrados.
Parto da premissa de que se trabalhar com textos
conhecidos e clássicos sempre é um tabu, pois adaptar uma dramaturgia que já é
carregada de significados e que no momento em que a adaptação é feita, corre-se
o risco de traí-la, já é um desafio. Mas os jovens atores conseguem (e por
sinal muito bem) vencer esta etapa, conseguindo utilizar o texto do Nelson
Rodrigues como um pretexto para a criação de um espetáculo imagético, onde a
figura da personagem Sônia (que no original é uma personagem única porém com
uma personalidade esfacelada), aqui é diluída, dissecada, fragmentada,
coletivizada e experimentada pelo grupo de dez atores, que trazem a cena, os
fragmentos da mente atormentada de Sônia, assim como as figuras que permeiam a
sua alucinação como o Pedro e o Dr. Junqueira.
E é neste sentido que este Valsa nº 6 me surpreende, pois
consegue colocar em cena uma gama de signos teatrais e metafóricos que faça com
que o espectador se envolva com o trabalho, não por uma via racional, mas
através de uma linha sensorial, até porque talvez quem não conheça o texto, não
consiga se envolver aos pormenores da dramaturgia textual, mas consegue se
envolver através da dramaturgia cênica, que é extremamente original e viva.
Percebo a mão precisa da Bianca Flores enquanto diretora
e as possibilidades que ela explora ao criar sua encenação. Bianca propõe e
isto é muito saudável. Quando estamos dispostos a criar um trabalho coletivo e
nos colocamos nele com disponibilidade de propor, de arriscar e de brincar com
novas possibilidades. Quando isso acontece é louvável, pois neste caso a direção
tem muito material, muitas possibilidades para se criar e jogar e aí chega o
momento de potencializar certas escolhas, de ajustar tempos, ritmos, ocupação
do espaço, evidenciar algumas cenas, trabalhar as sutilezas, enfim, amadurecer
uma proposta que já se sustenta muito bem.
O espetáculo em sua totalidade é extremamente lindo,
repleto de ações físicas, de partituras cênicas e de um gestual que as vezes é
coletivo, se utilizando muito da figura do coro, as vezes tem ênfase em uma
atriz, enfim, o espetáculo consegue se comunicar muito bem com esta força
imagética e poética. Destaque para a cena do estupro, feita com sombras, e da
cena onde os rostos aparecem na parede, onde também se utiliza de um tecido que
dá um efeito sensacional a cena. E o bacana de ver é que estas imagens se
constroem e se diluem num ritmo alucinado.
Penso que a direção poderia investir mais nas transições
de algumas cenas, pois às vezes se constroem imagens belíssimas, porém são
muito rápidas não dando tempo do espectador se deleitar. Outra questão a ser
trabalhada seria a voz e articulação de todo o elenco, principalmente nas cenas
coletivas, pois fragiliza quando não está equalizada e uníssona. A cena que
atriz rompe com a quarta parede também não auxilia na encenação, pois a aproximação
com a platéia fragiliza as imagens que estão sendo propostas no palco e
fragiliza a relação da atriz com o espectador.
Quanto ao elenco, percebo que é coeso, entregue e está
muito disponível para experimentar, para arriscar-se e isso é muito bom, pois
quando encontramos jovens disponíveis a criação teatral que parte de princípios
e códigos que são experimentais na sua essência, vejo que temos aí, um terreno
fértil para que esta parceria se aprofunde cada vez mais. Não destaco ninguém
do elenco pois os atores estão num nível de representação muito coletivo,
ninguém joga sozinho, todos estão a disposição do todo, e isso é que é bacana
de se observar, quando todos estão jogando juntos.
Por isso ressalto que o Grupo Art in fato foi realmente uma grata surpresa, pois soube utilizar muito bem um texto conhecido a seu favor, nos oferecendo um trabalho de qualidade e beleza. Parabéns a todos e que esta experiência possa ser um trampolim para novos vôos.
Comentário Crítico feito por Diego Ferreira sobre a peça Valsa nº 6, do grupo Art In Fato de Tupandi.
Espetáculo didático sem ser panfletário
O espetáculo “O médico que receitava livros” é uma
deliciosa comédia dirigida a todas as idades. Uma proposta que é didática, sem
ser panfletária, traz em sua essência uma pedagogia sem cair na pieguice de ter
um professor em cena ao invés de atores.
O espetáculo é centrado na força poética do texto de
Totonho Lisboa, que é uma revelação enquanto dramaturgia e letrista da bela
canção do inicio do espetáculo, pois consegue articular muito bem as
referencias literárias dentro da narrativa, apostando num texto que provoque
muito mais pelas situações e personagens bem delineados do que pelo riso ou
propostas rasas. O riso acontece, mas de acordo com as situações propostas pela
cena.
A encenação inicia com a entrada do médico Millor e sua
movimentação inicial é suja, sem motivação, apenas para montar a cena, o que
leva a crer que o entra e sai dos livros não passa de uma ação que serve para
preencher a duração da canção inicial. Passado este primeiro momento, que
poderia ser melhor decupado, o espetáculo vai ganhando força e ganhando a
platéia através de sua poesia literária e cênica. O elenco é coeso e consegue
equalizar muito nas interpretações, e o grande destaque da peça é a presença de
Caroline Oliveira, que consegue criar uma personagem que tem uma empatia muito
grande com o espectador, pois recheia suas ações de sutilezas numa
interpretação arrebatadora. Carolina através de sua presença constrói ainda um
novo personagem que não está em cena, porém a presença é forte, que é o
porteiro. A sua relação com esse personagem fictício é de uma veracidade que
acreditamos que este personagem irá adentrar na cena a qualquer momento. Samuel
dos Santos consegue sustentar a figura deste Doutor maluco e visionário.
Consigo embarcar na sua criação que pelo fato de ser ao mesmo ator e diretor
poderia ser melhor apurada, mas esse fato não tira o frescor de seu trabalho.
Já Alan Krug que faz três personagens tem a facilidade de construir tipos,
auxiliados por figurinos que ajudam muito na composição, talvez o primeiro personagem
pudesse ser um pouco mais explorado, para não ficar só na caricatura, mas com
as demais participações consegue se mostrar a que veio.
Penso que o grupo poderia investir na criação destes
universos paralelos provocados pela leitura dos autores citados em cena, pois
através disto poderia criar nuances necessária a cena, uma desconstrução da
figura do Doutor investindo mais na criação de outros mundos, auxiliados pela
iluminação que aqui é bastante neutra, mas que não compromete em nada a peça, assim
como a composição dos figurinos.
Outra aposta seria a do grupo investir mais nas
convenções teatrais, como entradas e saídas dos personagens de cena, pois do
modo como se apresentam são previsíveis.
O espetáculo carece de ajustes que de maior coerência ao
que já alcançam e o resultado alcançado é muito bom, através de um trabalho
criativo e limpo. Portanto reitero que "O médico que receitava
livros" é uma pedra preciosa que está em fase final de lapidação, pronta
para brilhar...
Comentário Crítico feito por Diego Ferreira sobre a peça O Médico que Receitava Livros, do grupo Teatral Trupe de São Leopoldo.
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Mais um dia de muita arte no Montenegro em Cena
Seguimos o Montenegro em
Cena. Hoje três belos trabalhos estiveram na programação e apresentaram para um
publico de 500 pessoas nos três turnos do festival. Pela manhã, O Médico que
Receitava Livros abriu seu consultório para nossa imaginação. A tarde o maestro Nelson Rodrigues nos brindou com sua Valsa nº 6,
e a noite Mariana e Sezefredo abriram as portas de sua relação em Os
Descasados. Obrigado a todos que proporcionaram mais um dia de belos encontros!
Texto criativo em montagem destoante
" As cinco pontas de uma estrela torta" trouxe poesia
imagética para o palco do Montenegro em Cena. O inicio do espetáculo é de uma
beleza extraordinária, assim como muitos momentos da peça. A direção do
espetáculo consegue ser precisa, pois a peça tem ações e marcações extremamente
limpas, num espetáculo belo, porém extremamente rígido em sua composição, a
começar pela dramaturgia que em sua concretude não é de fácil entendimento. A
narrativa se estrutura a partir da vida de Savine, e sua vida é contada através
das três fases de sua vida: infância, adolescência e adulta, sendo que estas
três facetas são colocadas em cena de modo separados e em outros momentos estão
as três facetas em cena, evidenciando a reflexão poética a cerca da humanidade.
O texto é muito bom, pois coloca no mesmo caldeirão reflexões acerca de
filosofia, física quântica, ciência e arte. Os diálogos são ásperos as vezes,
em outros momentos são depoimentos, contribuindo para a concretização de uma
cena que pulveriza questões teatrais contemporâneas.
A iluminação tem um papel fundamental, pois consegue ser um signo
bastante presente na composição da cena, cuidando apenas para em determinados
momentos dosar a sua utilização, assim como a trilha sonora, que é linda, porém
utilizada de forma demasiada, faltando a peça, momentos de silêncio, onde a
cena possa respirar e crescer com isso.
Outra questão é a linearidade como são tratados os textos, falta criar
cores, climas e intensidades diversificadas diferentes das que já foram
atingidas. E elenco bom se tem para efetivar isso. Destaco no elenco a presença
de Marta Brito, a Savine adulta, pois sua presença em cena é hipnotizante, com
ações comedidas e sutis, tem força e presença cênica surpreendente. Ana Sphor e
Bruna Johan também tem registros interessantes e Juliano Rangel enquanto urso é
um pouco caricato, mudando quando entra como Cristovão.
"As cinco pontas..." é tocante, bonito e complexo em sua
essência e em seus textos bem estruturados, que consegue elevar a qualidade do
festival, trazendo um espetáculo com uma outra linguagem, que não é a que
estamos acostumados a ver em festivais. Que bom que temos grupos assim, que
pesquisam e não se deixam levar por propostas fáceis e de resultados
rápidos.
Comentário Crítico feito por Diego Ferreira sobre a peça As Cinco Pontas de uma Estrela Torata, do grupo Produções Fulber de Novo Hamburgo.
Reminiscências de uma Velha Senhora
"La vitta é vecchia" é
um espetáculo solo onde Luise Scherer personifica a figura de Dona Firmina, uma
velha senhora que vive solitária em sua casa e para passar o tempo trás a tona
suas reminiscências.
Luise
consegue sustentar sua figura durante todo o espetáculo, o que falta a montagem
é a definição de uma dramaturgia que consiga amarrar as diversas histórietas
que estão em cena. Em muitos momentos a narrativa se impõe através de uma
descrição, por exemplo: quando ela diz, vou tomar vinho, e o mais interessante
seria transformar essa descrição em ação. Outro problema é a direção de Régis
D'ávila que tem um material potente em suas mãos, porém não consegue explorá-lo
de modo a transformar a encenação em algo que consiga ao mesmo tempo divertir a
platéia e mostrar a que veio a personagem. As cenas não conseguem criar uma
dramaturgia que auxilie a mostrar as diversas facetas desta figura, são
fragmentos soltos que muitas vezes não levam a nenhum lugar.
Penso
ainda que algumas cenas em que abre para a platéia o jogo se fragiliza e não se
estabelece. A ideia de passar o biscoito aos seus visitantes é boa, porém
dependendo do tipo de plateia o jogo pode não se efetivar, como acontece de
certo modo em Montenegro.
As ações
de Firmina não são orgânicas e muitas vezes tendem a colocar a figura no
esteriótipo da velha.
O cenário
realista ao extremo prende um pouco a atriz, sendo que uma dica fosse o grupo
apostar mais na teatralidade da cena, onde cenas como a do rádio possam ganhar
mais espaço na peça.
Penso que
este espetáculo possa ganhar muita força ao investir primeiro numa dramaturgia
mais redondinha, segundo numa direção que não deixe a atriz tão solta e
terceiro que pudesse ser apresentado num espaço mais intimista, com uma platéia
reduzida, para que a comunhão possa acontecer efetivamente.
Comentário Crítico feito por Diego Ferreira sobre a peça La
Vitta é Vecchia do grupo Uivo do
Coyote de Santa Maria/ RS.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Megera domada dos pampas
"A
moça bonita da linha do trem" é o espetáculo de abertura do 3° Montenegro
em Cena, e na minha opinião começamos os trabalhos muito bem. O espetáculo traz
a cena a história de amor de Maria Helena e Danilo, história essa que tem como
pano de fundo a colonização da região de origem do grupo.
O
espetáculo é cheio de méritos a começar pela direção presente e eficiente de
Marcos Cardoso, que consegue articular muito bem todos os elementos da
encenação, assim como o elenco numeroso (14
jovens atores).
Quando
o espetáculo começa salta aos nossos olhos o imenso cenário, que além de
ambientar a peça tem um papel fundamental no andamento da história. Ele auxilia
nas trocas de ambientes e climas e tem um serviço de contra-regragem bastante
eficiente e preciso, realizado pelos próprios atores. Esta contra-regragem é o
momento onde a teatralidade aflora na cena, é o momento em que os atores
despojam-se de suas figuras para brincarem de fazer teatro, é o momento da
quebra da ilusão, e isso é bastante positivo. O cenário móvel valoriza as cenas
de ação e joga com o poder da imaginação do espectador, pois sugere a presença
de um trem, provocado apenas pelo movimento de vagões e lanternas, assim como
as galinhas dentro da gaiola, ou seja, elementos que estão presentes, mas
provocados pelo imaginário criado pelo espetáculo.
Outro
destaque é a dramaturgia que consegue criar uma narrativa que contemple tanto
os elementos regionais que é um dos motes de pesquisa do grupo dentro de uma
chamada Trilogia Campestre (esta é a segunda parte da trilogia), e consegue
contemplar o elenco, distribuindo as figuras criadas, onde cada um tem um papel
fundamental dentro da peça.
Como
é bom ver um trabalho continuado com atores na faixa de 10 a 17 anos... É
engraçado falar isso, trabalhado continuado com pequenos, mas neste trabalho
percebemos no palco, as peculiaridades que são advindas desta prática.
A
encenação é de uma limpeza na sua concretização, tudo está a serviço da cena
conduzidos por um tempo-ritmo ideal para se contar a história. A iluminação é
pontual sem grandes movimentações e trocas, assim como a trilha que tem o papel
de pontuar as ações e trocas de cenas, as vezes utilizada de forma demasiada, as
vezes para tentar provocar através da inserção sonora a emoção do público, fato
que é desnecessário, senão vira melodrama, fica over, fato que não chega a
comprometer, pois a ação já está me dando estes elementos direto na cena que
não seria preciso de interferência sonora.
Os
figurinos estão totalmente dentro da proposta da encenação, sem exageros,
simples, porém conseguem dizer muito a respeito de cada figura representada.
As
passagens de tempo são de uma sutileza poética que pela forma como são executadas
cativam o espectador e voltar com o casal de enamorados ao final do espetáculo
dá uma sensação de circularidade, pois aquele casal do final pode ser o mesmo
lá do inicio, ou até mesmo pode ser um novo casal, até mesmo seus filhos, pois
histórias assim sempre costumam acontecer.
E
quanto ao elenco, posso dizer que seguramente é coeso na sua totalidade, todos
estão entregues, não há como dizer que ator A é o principal e o B é
coadjuvante, pelo fato que a direção consegue equalizar muito bem o jogo e a construção
destas figuras, evidenciando o que cada um tem de melhor, e isso é tão bom de
se ver em cena, quando todos conseguem brilhar a serviço da encenação.
O
espetáculo está de parabéns, pela proposta de colocar no palco as suas
histórias, seus dilemas, suas memórias construindo uma dramaturgia que se
alimenta do seu chão, sua terra. O texto tem inspiração em "A megera
domada" de Shakespeare, mas apenas parte de inspiração e motes, criando
uma história totalmente original e bem diferente da do Bardo, conseguindo um
resultado totalmente positivo. Está de parabéns por colocar em cena atores tão
jovens (o mais novo tem 10 anos), e tão íntegros e entregues no seu ofício.
Vida
longa ao Deixa Quieto e viva a diversidade cultural e regional!!!
Comentário
Crítico feito por Diego Ferreira sobre a peça A moça bonita da linha do trem,
do grupo Deixa Quieto de Salvador do Sul.
Curtinas abertas para o 3º Montenegro em Cena
E o primeiro
dia do Montenegro em Cena foi demais! A começar pelos três belos trabalhos que
estiveram no palco do Teatro Roberto Atayde Cardona. De manhã A moça bonita da linha do trem passou
por aqui. A tarde dona Firmina nos mostrou que La vita é Vecchia e a
noite tivemos uma reflexão poética sobre a condição humana com As cinco pontas de uma estrela torta. Já
não bastasse esses bons motivos, ainda tivemos belos debates e trocas de
idéias, além de termos atingido um público de 700 pessoas. Obrigado aos grupos,
aos avaliadores, as escolas, ao público a equipe e a todos que estão
construindo esta bela história. Amanhã tem mais.
Cinco Pontas de uma estrela torta.
A Moça bonita da linha do trem
La Vitta é Vechia
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Diego Ferreira comenta os espetáculos do Montenegro em Cena

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