"O chapeleiro maluco" é uma produção do
Grupo Teatral Leva Eu direcionada as crianças e é exatamente por aí que eu
começo minha analise. Fazer teatro é uma responsabilidade muito grande, e
quando direcionamos o fazer teatral ao público infantil esta responsabilidade
tem de ser redobrada. O que eu percebo nesta montagem de "O chapeleiro
maluco" é uma sucessão de equívocos, que podem e devam ser trabalhados
para que esta experiencia possa ser potencializada.
Quando o espetáculo inicia percebemos um palco com poucos
elementos, uma limpeza na cena que poderia servir para a criação de imagens em
ação, mas a medida que o espetáculo avança vem a tona uma série de esteriótipos
do teatro infantil como o uso exagerado de intenções didáticas, que tem que se
ter um pouco de cuidado, pois a criança é um ser dotado de inteligencia e que
por isso não precisa ser tratada como não fosse inteligente. A criança tem a
capacidade de interpretar o que vê, portanto não é saudável mastigar tudo e
entregar ao público. A dramaturgia peca no sentido de explorar um moralismo,
onde Aninha é boa/Juca é ruim e o professor é o espelho que tem que ser
seguido. O texto poderia usar as contradições destes personagens, explorar
melhor o universo dos sonhos que é o universo do Chapeleiro, explorar sensações
diferenciadas que evidenciem este universo paralelo.
Os figurinos tem uma preocupação em se comunicar
com o espectador quando utiliza a mesma estampa para o figurino dos irmãos, até
mesmo no inusitado figurino do Chapeleiro, mas penso que os demais elementos
estéticos como a trilha sonora que em nenhum momento ajuda a encenação, a criar
climas e tensões, pois são músicas conhecidas, mas que são deslocadas do
contexto da narrativa e acabam se tornando clichês. As coreografias são muito
bonitas, mas também não auxiliam, pois são apenas coreografias, sem sentido na
encenação, assim como a iluminação que poderia ter papel fundamental aqui, mas
é pouco explorada, poderia criar climas e suspensões na proposta.
Tudo precisa ser repensado, até mesmo a relação com
a platéia, pois nem sempre nas produções infantis é necessário esta relação, e
aqui a relação é forçada.
Sugiro então repensar o trabalho no sentido de
aprofundar as personagens no sentido dramatúrgico e no sentido das atuações, no
sentido das convenções e fugir dos esteriótipos e do politicamente correto,
sujar mais as figuras, construindo uma dualidade inerte ao ser humano.
Como já conheço outros trabalhos do diretor Igor e
sei desta humildade e gana em trabalhar com teatro, sei que ele vai filtrar
todas as questões e vai triunfar em seus novos projetos.
Comentário Crítico feito
por Diego Ferreira sobre a peça o
Chapeleiro Maluco, do grupo Teatral Leva Eu de Viamão.
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