“Os descasados” é uma comédia que trás a história de
Mariana e Sezefredo, um casal que vive aos trancos e barrancos na vida
conjugal. O espetáculo é nos apresentado como uma farsa e é perceptível alguns
elementos muito forte deste gênero em cena como gestualidade grandiloqüente,
enchimentos, maquiagem exagerada e uma corporalidade exacerbada.
As figuras construídas por Everton e Gina chamam a
atenção desde o primeiro momento que aparecem no lado de fora do teatro e
começam ali a sua interação com a platéia, mas no palco penso que os dois
atores poderiam apurar melhor o jogo e relação entre estas duas figuras,
demasiadas vezes percebo que o jogo funciona muito mais com quem está
assistindo (principalmente os que estão dispostos sobre o palco), do que
interagindo entre eles. Penso que os atores poderiam exercitar uma escuta entre
os dois, para que a cumplicidade entre eles possa se fortalecer e fazer o jogo
efetivamente acontecer. Em alguns momentos isso acontece, é quando é gostoso de
estar assistindo aquelas figuras, porém em outros momentos o jogo enfraquece e
cria-se uma ampla abertura para o improviso, que se for utilizado de forma
inteligente tudo bem, porém o resultado pode se dar de modo desastroso.
Na apresentação que o Grupo realizou no Festival o que
percebi foi que por esta falta de escuta e interação entre a dupla, acaba
ocorrendo uma sucessão de erros em cena, e estes erros são percebidos pela
platéia. Muitos destes foram super bem resolvidos através do olhar apurado do
Everton que se safou e muito bem de alguns destes imprevistos, porém outros não
tiveram como serem corrigidos. Mas se o espetáculo tiver esta abertura para o
improviso é aceitável, o que percebo é que “Os descasados” não é um espetáculo
fechado, porém nem tão aberto para apenas ficar consertando cenas e
improvisando. Por isso é extremamente importante exercitar sempre o estado de
jogo e a escuta entre os atores, que pelo fato de estarem a muitos anos
apresentando a mesma peça pode se desgastar.
Os elementos constitutivos da cena estão a serviço do
trabalho, através de um cenário simples, uma luz básica sem grandes movimentos
e uma trilha que auxilia a contar a narrativa. Os figurinos jogam com cores
opostas o que contribui para a relação dos atores.
Quanto as atuações percebo o trabalho que Gina e Everton
conseguem sustentar e se aproveitar muito bem, sendo que na maioria das vezes
Everton consegue se sair melhor, justamente por ir ajustando tempo/ritmo
durante o espetáculo, consegue ir da sutileza para o grandiloqüente, ao
contrário de Gina que já imprime a sua personagem uma energia muito grande
desde o inicio, chegando até mesmo a faltar o ar em algumas vezes. Gina poderia
aproveitar mais sutilezas, jogar com o grande e o pequeno e crescer com isso.
Contudo isso, “Os descasados” é um espetáculo que se
centra na figura dos atores e quando estes estão fragilizados o espetáculo não
se mantém, mas mesmo assim, não deixa de ser prazeroso assisti-los.
Comentário Crítico feito por Diego Ferreira sobre a peça Os Descasados, do grupo Renascença Cia de Teatro de Montenegro.
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